Evangélicos e política: devemos nos envolver com a política?

Há muitos anos atrás havia uma expressão comum no meio evangélico que dizia que “crente não se envolve com política”. O ambiente malicioso do poder e em última medida, a crença no estado laico serviu de base para que, no passado, os evangélicos e política fossem temas que não se misturavam. 

Quando falamos em estado laico, na verdade, temos que ter em mente que a estrutura governamental não deve ter uma religião oficial

Em nome da liberdade religiosa, o Estado deve trabalhar pelo bem de todos, sem privilegiar qualquer grupo religioso, mesmo que seja a maioria.

Porém, os cristãos têm um compromisso de serem embaixadores de Deus aqui na Terra, o que significa se envolver com assuntos que condizem com a melhoria da vida e da dignidade humana.

É sobre isso que quero desenvolver neste texto. Sobre o dilema de termos nossa preocupação voltada para o reino de Deus e, ao mesmo tempo, a necessidade de nos envolvermos com “as coisas deste mundo”.

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Estado laico não é justificativa para o distanciamento político

Sim, vivemos em um estado laico. Em outras palavras, a estrutura governamental não pode ter um compromisso exclusivo com qualquer grupo religioso.

Porém, como cristãos, temos a missão de colaborar com o país em que vivemos. E sabemos que a arena política é um meio pelo qual podemos participar para buscar melhorias para a população como um todo.

Como cristãos, nossa relação com o poder precisa estar voltada para a cidadania. Pense comigo: o fato de sermos cristãos não nos tira “deste mundo”. Pelo contrário, nos traz o desafio de viver o reino de Deus dentro do contexto em que estamos.

Ou seja, não fomos removidos da convivência social para vivermos apenas entre nós evangélicos. Portanto, mesmo com um estado laico e não-religioso, temos uma missão com a nossa sociedade

E qual é o compromisso do cristão com a política: a busca incansável pelo bem-comum.

Evangélicos e política: qual tipo de envolvimento é possível?

Há várias formas possíveis de engajamento dos evangélicos na política. O primeiro deles é por meio do voto. Sim, eu sei que isto é básico demais, mas não deixa de ser verdadeiro.

O voto é uma das armas mais poderosas que temos para influenciar a política. Não apenas escolhendo bons candidatos, mas dialogando com eles após a chegada ao poder. Hoje temos dezenas de mecanismos para acompanhar o trabalho dos governantes.

Sendo sincero, na maioria das vezes esquecemos dos candidatos que votamos. Você se lembra do deputado federal que votou na última eleição? 

De certa forma, isso simplesmente desvaloriza nosso voto. Quando escolhemos um candidato e ele toma posse do cargo público, podemos utilizar as redes sociais e o próprio e-mail do político para cobrar aquilo que ele se comprometeu a fazer no período de campanha.

Viu como é possível participar da política? Mas tem mais!

Também podemos participar diretamente da política por meio de:

  • Trabalho em ONGs ou fundações filantrópicas
  • Cobrando os representantes do poder público a cumprirem suas funções
  • Trabalhos voluntários
  • Participação em partidos políticos
  • Movimentos sociais
  • Ou simplesmente ajudando os necessitados

Portanto, os caminhos da participação são muitos. Nosso interesse com a participação política é melhorar a vida das pessoas, que na verdade é um ato cristão.

As ciladas do inimigo: os perigos da ideologia 

Atualmente, o grande problema da relação entre evangélicos e política tem sido, justamente, a desconsideração de que vivemos num estado laico. 

Muitos grupos e denominações cristãs têm se envolvido na política apenas para beneficiar suas igrejas ou agremiações religiosas. Querem aproveitar da aproximação com o poder para obter vantagens para o povo evangélico.

Também, vários pastores e políticos da chamada bancada evangélica fazem militância quase exclusiva de demandas morais e se esquecem das melhorias para o bem-comum. 

Para piorar, esses líderes têm cedido os púlpitos de suas igrejas para políticos, esquecendo-se do objetivo central do culto que é a proclamação da Palavra de Deus.

Um dos problemas mais graves em relação entre evangélicos e política tem sido a exaltação de determinados políticos e identificação de ideologias políticas como se fossem cristãs.

Desta forma, muitas igrejas têm enfrentado divisões em seus quadros internos entre aqueles que são à favor de determinado governante em detrimento daqueles que são contra. Em períodos de eleições isso se torna ainda mais grave.

Vimos aqui que o estado laico é uma garantia de que nossos direitos religiosos serão mantidos. Afinal, a liberdade religiosa só existe plenamente em contexto laico. 

Portanto, o envolvimento evangélico com o poder quando é feito sem a preocupação com o bem-comum e visando exclusivamente os benefícios para o povo evangélico, corre-se o risco de manchar a missão da Igreja para exaltação política de poucos.

O que devemos fazer?

Em primeiro lugar, o cristão deve se envolver com a política. Também, não há nenhum problema o evangélico expor suas preferências políticas e apoiar determinados candidatos ou personalidades políticas.

O grande problema é levar discussões partidárias para dentro da igreja, sem considerar a pluralidade de pensamento entre os irmãos.

Em segundo lugar, devemos sim participar de grupos políticos e sermos ativos na luta incansável pelo bem-comum. Porém, temos que ter em mente que vivemos em um estado laico. 

Por fim, a luta do cristão sempre será, primordialmente, pelo reino de Deus. É claro que a política faz parte da nossa prática cidadã, mas sempre em prol de todos, e não para o bem das nossas igrejas. Só assim a relação entre evangélicos e política poderá ser benéfica para todos.

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